Os riscos e(i)minentes dos filhos de Lattes
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Criaram castrelos e construíram um fosso em volta. Construíram técnicas e estratégias de defesa, em defesa dos seus produtos, uma produção intelectual, um bem imaterial. Conquistaram um poder, de dizer o que é, e o que não é conhecimento. O poder de dizer o que é científico, e o que é empírico; dizer o que é teoria e o que são achismos. Estabeleceram regras para chegar a um topo sempre inalcançável, criavam sempre novos degraus que pudessem chegar a torre do castelo. E seus castelos correm o risco de serem invadidos e derrubados.
Os deuses da academia correm um risco (e)iminente, os aclamados deuses possuidores de um conhecimento. Conhecimentos produzidos e lapidados por anos a fio em seus currículos, cheios de produção científica. Perderam horas diárias penteando seus currículos, dando uma valorização de marketing e estratégias. Usaram palavras de efeitos em cultos científicos, simpósios e palestras. Criaram critérios para produção de livros e artigos, criaram referenciais qualificados, por eles mesmos, os dominadores dos que possuem um conhecimento. Formataram tudo com ABNT e Vancouver.
Conhecimentos respaldados por seus currículos Lattes, e chancelados pelo CNPQ. A disputa de títulos saiu das congregações universitárias e chegou nas ruas. Poderá não mais haver duelos nos congressos e simpósios, com seus canudos em punho, disputando entre os conferencistas. Suas plataformas e produções bibliográficas correm riscos. Correm os riscos de serem apropriadas pelo povo. podem se tornar vulgares e populares.
Titulados como mestres e doutores, bacharéis e especialistas, correm os riscos de perderem o poder obtido por seus títulos, para aqueles de reconhecida sapiência, possuidores de um saber notório, um saber de quem não frequentou as universidades, e não percorreu uma carreira docente. Fizeram uma faculdade nas ruas. Já dizia Cascudo, conhecer o povo é fazer uma faculdade.
O conhecimento surge do povo, com seus comportamentos e sua cultura. E a academia pesquisa e cataloga. Mapeia e classifica, cria regras cartesianas e diz produzir um conhecimento.
Uma MP circula nas oficinas de ideias em Brasília. O poder da caneta pode derrubar os conhecimentos, e espalhar pelas ruas da cidade.
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